domingo, 29 de setembro de 2013

Escritor Moacir Amâncio concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o jornalista e escritor pinhalense Moacir Amâncio, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Over Shock (Ricardo Biazotto)Moacir, para iniciar, fale um pouco sobre a peça “O Rei, o Rato e o Bufão do Rei”, sobre o autor, e o que motivou sua indicação para que a Companhia Viva Arte fizesse essa leitura dramática.
Moacir – Olha, Ricardo, são aqueles momentos: a gente sempre trabalha, a gente sempre atua movido pela inspiração, a gente pensa que a inspiração é uma coisa só... a inspiração está presente na nossa vida no dia a dia. E eu li essa peça, descobri o autor, e fiquei impressionado com ela, achei um ótimo texto, e muito importuno, porque ela foi escrita por um romeno, nasceu em 56 na Romênia, viveu sob a ditadura comunista lá, uma coisa horrível, como toda ditadura, mas conseguiu se exilar na França, e passou a escrever em francês. O que foi muito bom, porque o francês é uma língua universal, ele escreve muito bem, é um grande escritor.
E a peça fala sobre aquela história do poder e a loucura da história. Isso diz respeito a todos nós. A peça é um texto universal, e pelo que tem a sátira de humor, de crítica, permite uma reflexão sobre o poder, sobre a história, e também sobre o nosso comportamento particular, de cada um. Então é um texto muito rico, fiquei muito contente com aceitação da sugestão e com a realização do pessoal, que agora apresentou o trabalho deles.
A minha ideia é propor, com esse tipo de evento a eles, é trabalhar uma forma de divulgação do teatro, de um modo rápido, dinâmico, e sem custo, baixíssimo custo, ou seja, custo quase nenhum. É um intermediário entre a leitura particular privada do texto, e o espetáculo, que pode ser montado ou não. Mas o importante é que as ideias estejam circulando e sendo debatidas.
Eu gostei muito do que eles fizeram, talento, disposição, e curiosidade, tudo isso que move a arte, a vida, e a criatividade, sobretudo.

Over Shock (Ricardo Biazotto)No terceiro Pin Pin de Literatura, o poeta João Batista Rozon foi homenageado e dessa vez, na primeira Semana Edgard Cavalheiro, foi a vez de o senhor ser homenageado. Gostaria que você comentasse um pouco sobre essa homenagem, o que o senhor sentiu, já que no final do ano passado, quando foi lançado o “Gol de Esquerda” em Pinhal, o senhor também recebeu uma homenagem, ainda que mais simples. Gostaria que o senhor comentasse sobre isso.
Moacir – Eu nunca acho que eu mereço homenagem nenhuma. Claro, não é falsa modéstia, simplesmente isso. A homenagem ela se torna significativa quando ela é vem com emoção, vem com uma sensibilidade, vem com uma sutileza, como aconteceu aqui agora. Sabe, memória, amigos de infância que lembram coisas, então eu fiquei muito tocado, porque foi feita uma pesquisa pela professora Valéria que descobriu o meu passado condenável de estudante na Escolinha de Comércio, e até, sei lá, só faltou pegar o meu boletim no Batista Novaes, que esse é mais vergonhoso ainda.
Então, claro, eu tô brincando também, mas foi muito tocante, sabe, a pessoa fazer uma coisa muito delicada, e eu gostei muito das palavras do João Rozon também, somos amigos já de bastante tempo, né? É uma coisa boa!

Over Shock (Ricardo Biazotto)Em relação ao prêmio Edgard Cavalheiro, o senhor acha que é uma forma importante de divulgar o nome do Edgard e também da cidade de Pinhal?
Moacir – Não tenho dúvidas quanto a isso. É importante sim, e sim, eu vou falar de homenagem, é uma homenagem justa, é uma figura muito importante, e é realmente um cara bacana, que deve ser lembrado sim. Normalmente a tendência, ainda mais hoje que a literatura é uma coisa que começa a ficar sempre de lado, pra escanteio, é preciso batalhar muito pra que se preserve os nomes dos autores, mas antes dos nomes dos autores, é preciso que se crie, crie modos de incentivar a leitura, e fazer com que a leitura ela volte a fazer parte, de uma certa forma, do dia a dia das pessoas. Esse é o objetivo. A literatura não escrita pra alguns intelectuais, agentes especializados. Não!
A literatura, ela é escrita, a poesia, o romance, o conto, pra todo mundo. Então, todo trabalho, toda promoção, toda iniciativa que se volte para a divulgação da cultura, a divulgação da leitura, do pensamento, e das ideias, e o debate delas, é importante, e deve ser levado em frente, com maior garra, com maior atenção, maior cuidado e responsabilidade.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Pra encerrar gostaria que o senhor comentasse sobre a sua visão em relação a primeira Semana Edgard Cavalheiro e também as expectativas para as próximas edições.
Moacir – Olha, eu acompanhei, não toda, eu acompanhei a programação, eu achei muito legal, muita boa, os nomes que estiveram, o Cadão Volpato, o (Marco) Villa, o Luiz Ruffato. São nomes representativos da cultura brasileira hoje, da literatura brasileira. E são pessoas com realmente que contribuem alguma coisa para o público, os leitores, ouvintes, sei lá. As outras também foram muito legais, e tal, mas a gente percebe que estão havendo um amadurecimento nas coisas. Pin Pin para Edgard Cavalheiro. E espero que isso continue nessa mesma linha, e fique cada vez melhor. Foi muito bom, mas a gente sempre encontra alguma forma de mudar, de criar, e de fazer uma coisa que talvez seja melhor e tal. E isso é o que eu espero que aconteça: sempre criativo, sempre dinâmico, e sem acomodação.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Escritor Jorge Abdalla concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o escritor pinhalense Jorge Abadalla, autor de Iniciação ao Sete, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Over Shock (Ricardo Biazotto) Jorge, para iniciar essa entrevista, comente um pouco sobre como foi sua entrada na literatura. Esse é um sonho recente ou já veio da mais longínqua infância?
Jorge Abdalla – Isso já veio de longe. Diria que, provavelmente, com as primeiras poesias na adolescência, as primeiras paixões. Na verdade a primeira poesia que eu fiz foi baseada em poemas de Camões. Então ele era todo certinho, decassílabo, depois que a gente foi entrando para modernidade. Da poesia eu fui para o conto, me apaixonei pelas histórias, escrevi algumas peças de teatro, e essa também foi outra paixão adolescente que eu trago até hoje que é o amor pelo teatro. Então eu hoje trabalho também com teatro, como ator, como diretor, e escrevo algumas peças. Todo ano eu monto pelo menos uma peça de teatro.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Iniciação ao Sete surgiu de que forma?
Jorge – Iniciação ao Sete surgiu de uma forma muito interessante, porque a princípio os contos eram orais. Eu inventava os contos e contava para os amigos numa mesa de bar, numa hora descontraída, conversando. Aí inventei o primeiro, o pessoal gostou. Inventei o segundo, o terceiro, até chegar o sete. Talvez por isso tenha dado o nome de Iniciação ao Sete. Os sete primeiros contos que abrem, que é o primeiro capítulo do livro, começaram sendo contados para os amigos. Aí eu me proibi, eu falei: “enquanto você, Jorge, não escrever os sete contos você não vai inventar mais”. Aí eu escrevi os sete contos, só a partir daí continuei inventando os outros, mas aí eu já passei a escrever direto, então veio a segunda série de sete, a terceiro série de sete, a quarta série de sete. Nesse livro estão as quatro primeiras séries de sete contos, então são 28 contos. Alguns mais infanto-juvenis, outros bem experimentais, até na linguagem, palavras novas, algumas frases novas, e outros são de fundo mais psicológico. E eu deixei um capítulo só para contos que já foram premiados em algum concurso, algum edital, coisas do tipo.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Olhando o livro dá pra perceber que possui uma diagramação bem interessante, com algumas ilustrações e tal. Como foi essa preparação?
Jorge – Ah, isso também foi outra coisa muito gostosa. Como eu tenho essa coisa do teatro, que eu gosto muito, eu falei: “Eu quero ilustrar o meu livro com desenhos feitos por crianças”. Então eu escolhi alguns contos, fui até uma escola pública, contei pra algumas classes de alunos de 5ª, 6ª, 7ª, 8ª séries, e a partir da narrativa eles fizeram os desenhos. Eu escolhi alguns desenhos, e depois coloquei no livro com o nome deles, com a idade, com a sala. E foi uma experiência muito legal.
Depois eu voltei na escola, entreguei os livros, a escola me recebeu assim de uma forma brilhante. Até me surpreendeu, porque quando eu cheguei na escola, o diretor tinha colocado a escola inteira, que tinha de 600 a 1000 alunos, no pátio e eu fui recebido com palmas e no fim, cada um daqueles alunos que colocaram sua ilustração no livro, acabaram sendo meus coautores, com seus dez anos, onze anos, doze anos. Foi muito legal!

Over Shock (Ricardo Biazotto)Como se deu a publicação dessa obra? Você encontrou algum tipo de dificuldade ou foi fácil?
Jorge – Então, na verdade eu esperei um tempo, porque não sabia direito como eu ia fazer. Aí apareceu um edital da Secretaria de Cultura de Estado, através de um programa que chama ProAc, que é Programa de Ação Cultural. Eu falei: “bom, eu tô com o livro pronto, vou arriscar concorrer, né?”. E foi escolhido, pela Secretaria pra ser publicado em 2011, aí até o processo todo de conseguir fazer como eu queria, achar editora e tudo, eu acabei conseguindo publicar ele no comecinho desse ano. Então isso foi gratificante para mim, porque como passou por uma escolha pela Secretaria de Cultura de Estado, eu falei: “puxa vida, então eles não são tão ruins assim, né?”. Então teve algum reconhecimento, isso foi muito gratificante pra mim.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Qual a sua sensação ao lançar Iniciação ao Sete na primeira Semana Edgard Cavalheiro aqui em Espírito Santo do Pinhal?
Jorge – Ah, pra mim foi o máximo! Puxa vida, a cidade que eu nasci; revi muitos amigos, lembrei muitas histórias que estavam meio adormecidas na minha memória, os meus companheiros de teatro, os meus companheiros de COJOP, parentes, amigos de futebol, de muita coisa assim que estava meio esquecido na minha memória, tudo isso foi reanimado. E o mais emocionante foi hoje: eu encontrei a minha professora de primeiro ano primário, Dona Carmela Belcuore, foi assim muito emocionante. Ela veio com a irmã, foi assim delicioso, fiquei muito feliz.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria que você comentasse um pouco sobre os seus futuros projetos ligados à literatura.
Jorge – Então, eu continuo escrevendo os meus contos, tenho um conjunto de poesia que eu ainda não publiquei assim como uma obra só de poesia. Esse livro tem algumas poesias, mas são apenas para abrir os capítulos. Tenho os meus textos de teatro. Então eu não vou fazer assim um plano fechado, mas eu continuo escrevendo, e assim como o destino me abriu essa porta, vou esperar o momento certo pra que eu possa lançar o próximo livro.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Escritor Cadão Volpato concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o escritor Cadão Volpato, autor de Pessoas que passam pelos sonhos, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Over Shock (Ricardo Biazotto)Cadão, para iniciar, comente um pouco sobre a sua carreira como escritor, como músico, como apresentador.
Cadão – Bom, eu na verdade, assim, a coisa do escritor veio... Na verdade a coisa do ilustrador veio antes de tudo, quando eu era pequeno. Aí na sequência eu quis ser escritor e aí esse romance, na verdade, como é o primeiro romance, é a realização de um sonho dos anos 70, porque eu lembro que quando eu entrei na faculdade a primeira coisa que eu disse que eu queria escrever um romance e tal, a professora questionou. Eu disse: “Olha, eu quero, minha vontade é escrever um romance”. E eu não falei assim: “Vou escrever um livro de contos. Quero escrever um livro” ou “Vou escrever contos”, “Vou ser escritor”. Não! Eu falei: “Eu quero escrever um romance”, eu lembro bem disso – é disso que eu vou falar inclusive. Aí muitos e muitos anos depois, isso aqui é a minha realização desse sonho inicial, entendeu?
Nesse meio tempo, você pode botar aí uns 30 anos, eu tinha uma banda chamada Fellini nos anos 80. Foi importante no circuito do underground de São Paulo daquela época, nos anos 80. A gente era uma banda independente, gravava de forma independente, mas uma coisa muito legal, foi uma experiência que me marcou. Quem me conhece sabe que é daí que vem um pouco, digamos assim, o tipo de vigor diferente no meu relacionamento com a arte. Pra mim foi experiência e tanto, porque a cena daquela época era uma cena muito forte, pouco próximo do punk.
Mas o que eu sempre quis fazer era escrever mesmo, e hoje eu estou, de certa forma, realizando isso, porque eu tenho quatro livros de contos que são anteriores a esse. Desde 95 eu venho publicando, tenho um livro infanto-juvenil também, mas eu não tinha realizado esse negócio de fazer um romance, porque muda tudo para você, sabe? Porque escrever um romance é criar um universo inteiro, e eu não tinha tido essa experiência. O fato de ter conseguido fazer isso de uma forma mais ou menos rápida mudou um pouco os parâmetros da minha carreira. Hoje em dia eu estou dedicado a escrever como jornalista e como romancista, e a minha tendência é continuar escrevendo romances. É o que eu quero fazer nos próximos anos.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Você encontrou algum tipo de dificuldade pra entrar no mercado literário?
Cadão – Não. Olha, eu tive muita sorte. Quando eu comecei a publicar em 95 a cena literária no Brasil, principalmente em São Paulo, era muito fraca no ponto de vista do escritor nacional. Em meados dos anos 80 a Companhia das Letras ainda estava se formando, era um mercado um pouco insípido assim, para o escritor brasileiro. Então eu comecei assim sem um parâmetro nacional. Isso foi muito legal.
Eu tentei a Companhia das Letras logo no começo, aí como a resposta demorou pra vir – pra você ver o que é falta de experiência -, a resposta demorou pra vir e eu passei esse livro pra Iluminuras, que é uma editora bem menor, e o Samuel Leão, que é o editor da Iluminuras, de quem eu fiquei amigo, ele de cara quis publicar, e o livro acabou saindo por essa editora menor. E na sequência os meus outros três livros de contos. E o romance foi um pedido também do Luiz Ruffato, o escritor. Ele estava fazendo uma espécie de curadoria pra editora Babel, que é uma editora portuguesa que ia entrar no mercado brasileiro, mas depois acabou não dando certo, enfim. Eu topei escrever um romance, escrevi muito rápido, e na sequência esse romance foi parar nas mãos da Cosac Naify, que é uma das grandes editoras do Brasil, e pra mim foi muito legal. Quer dizer, deu tudo muito certo, então eu não posso dizer pra você que eu tive uma dificuldade, que fui rejeitado, não teve nada disso. Fui muito bem recebido, inclusive na Cosac, quando eles resolveram publicar, foi uma coisa muito rápida, o que não costuma ser comum, e eu fiquei muito feliz por isso. Em relação a literatura tá tudo certíssimo, sabe?

Over Shock (Ricardo Biazotto)Sobre o que fala esse livro?
Cadão – Ele chama “Pessoas que passam pelos sonhos”, ele é um livro que se passa entre 69 e 79, em vários países da América do Sul, tomando São Paulo como base. É a história de um arquiteto, meio distraído assim, sujeito meio avoado, que vai para os lugares, viaja para os lugares, sempre por pretexto, sei lá, ele ouviu falar que La Paz é uma cidade bonita; ele vai até La Paz. Ele faz um circuito que acaba dando num chamado Hotel no Fim do Mundo, que é um hotel na Patagônia, e antes de chegar nesse hotel ele conhece um taxista, em Buenos Aires, de quem ele fica amigo instantaneamente. Então é a história dessa dupla, dessa amizade instantânea, que acontece com essa dupla. Um taxista de Buenos Aires e um arquiteto brasileiro, distraído.
Dez anos depois, a história dá um pulo, esse taxista precisa da ajuda do arquiteto porque um dos filhos dele se envolve com movimentos políticos na Argentina, numa época de repressão muito pesada nos anos 70, e ele pede que esse arquiteto receba esse filho dele em casa, em São Paulo. Então a história dá esse pulo, vai para o relacionamento desse garoto que chega acompanhado de uma menina, que é muito bonita, em São Paulo, com os filhos desse arquiteto, e tudo mais.
Então é uma espécie de... Passa pelo que significava ser jovem em 69 e 79, que são os períodos que eu conheci melhor, e também passa pelo momento político que esses país viviam de grandes ditaduras na América do Sul, mas um jeito mais tangencial, não bate diretamente na coisa, mas isso tudo é mostrado pela reação dos personagens, pelas vidas deles que são modificadas por esses acontecimentos políticos.

Over Shock (Ricardo Biazotto)E como se dá a sua palestra?
Cadão – Então, a minha palestra é exatamente em cima disso. Vou contar isso que eu estou falando pra você, quer dizer, ela se chama “Uma Aventura no Romance”, é isso basicamente. É como eu cheguei no romance. O que é muito simbólico do que eu tentei fazer a vida toda como artista, sabe? Mesmo sendo músico, mesmo sendo desenhista, mesmo sendo isso e aquilo, na verdade o que eu sempre procurava era chegar nisso aqui. Isso é o resultado de um longo trabalho, embora tenha sido escrito de uma forma muito rápida. Foi escrito em dois meses e meio, e talvez porque a demanda já estivesse muito represada, entendeu?

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria que você comentasse sobre seus futuros projetos na literatura, na música.
Cadão – Na música eu não tenho mais projetos. Acho que encerrei minha carreira, tenho essa impressão. Nunca se sabe, porque ao longo do tempo eu fiz algumas coisas assim, mas a música pra mim tem um interesse hoje secundário, não sei por que também. Não sei por que a indústria derreteu ou não, a indústria musical, mas na literatura eu já escrevi um novo livro, que é completamente diferente desse aqui, é um livro que conta uma aventura diferente.
É a história de um amigo, com quem eu compunha no Fellini e tal, que foi morar em Londres, trabalhar na BBC, e ele um dia chegou em São Paulo com a ideia de fazer uma stand-up comedy, uma comédia stand-up (risos). Eu fiquei muito impressionado com essa história, que eu escrevi uma novela contando a história desse cara ficcionalizado, evidentemente, porque é uma ficção não é um romance-verdade, mas muito inspirada na história, na trajetória dele, e tangencialmente, contando um pouco da minha trajetória como músico nos anos 80, por tabela.
Então é essa a história: um cara que vai stand-up, que é uma coisa pra mim extraordinária, eu nunca vi um stand-up ao vivo, não sei como é, mas eu não gostaria de ver, porque eu não gosto de comédia ao vivo dessa forma, acho meio chato. Comediante é uma coisa meio esquisita, porque o cara que é pago pra fazer graça é uma coisa esquisita. E eu sou do tempo de gostar do Charles Chaplin, esse tipo de comediante. Gostava de uns caras engraçados, mas nunca cheguei a pensar em stand-up, pra mim era uma coisa, imagina né...
E esse meu amigo veio com esse intuito, e o mais divertido é o seguinte: hoje ele está lá em São Paulo, estreando a stand-up dele, em um cafezinho. Ou seja: ele conseguiu realizar uma coisa, depois de todo esse tempo, basicamente ele concretizou a minha ficção, porque esse livro já está pronto, vai para a Cosac terça-feira, e o cara no sábado ele faz esse stand-up. Engraçado! Vamos ver no que vai dar, acho que vai ser legal.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cordelista Paulo Barja concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o cordelista Paulo Barja durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto
Over Shock (Ricardo  Biazotto)Paulo, para começar, gostaria que você comentasse um pouco sobre a literatura de cordel.
Paulo Barja – A literatura de cordel, eu considero uma ponte entre a literatura e a música. É uma literatura muito oral, é uma literatura pra gente ler em voz alta, e é muito um jeito de falar, que ao mesmo tempo em que tem a poesia presente, é muito próxima do cotidiano e do popular mesmo. São assuntos do cotidiano, assuntos do dia a dia, podem virar cordel. Então é uma poesia simples, uma poesia cessível, que é inclusive talvez a razão principal pela qual me encantei, essa simplicidade e ao mesmo tempo essa ponte entre a música e a literatura.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Atualmente qual é a procura dos cordéis?
Paulo – O Brasil viveu uma grande fase de cordel. O século XX teve muito, na década 40 e 50 do século XX o cordel vendia demais. O cordel era uma literatura que vendia muito. Hoje ainda vende bastante. Mudou um pouco, porque a gente tem acesso à internet, então hoje existe os cordéis virtuais também, que é um caminho.
O que acontece hoje, no nordeste ainda existe aquela coisa do cordel na feira, é muito comum. A gente vai para Aracaju, esses lugares têm os cordelistas na feira, então isso ainda tem bastante, mas houve uma mudança que eu posso dizer em termos de público, porque hoje o cordel chegou na escola, chegou na Academia. Então as faculdades, as universidades, os colégios e escolas, estão descobrindo o cordel. No nordeste isso já existe faz tempo, mas a gente aqui do sudeste está descobrindo isso, e o potencial assim do cordel na educação está crescendo demais, essa é a grande vertente atual.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Você mantém o projeto Cordéis Joseenses. Gostaria que você comentasse um pouco sobre isso.
Paulo – Isso! Na verdade porque eu sou apaixonado por cordel, sempre gostei, desde de novo, e comecei a colecionar cordéis. Então eu tenho uma coleção, uma cordelteca particular que tem talvez perto de três mil cordéis. Gosto de escrever também, então um belo dia eu falei: “Espera aí, e se eu começar a juntar esses interesses? Eu gosto de escrever, gosto de cordel, vou experimentar”. Comecei a brincar de fazer cordel, e me identifiquei demais, eu me encontrei aí. Então eu comecei a fazer os Cordéis Joseenses nesse espírito, também motivado pela ideia de como fazer uma literatura que pudesse ser acessível pra crianças. O cordel tradicional muitas vezes é mais duro, um pouco mais pesado, e algumas pessoas questionam um pouco isso. Então eu falei: “Não, eu vou fazer um cordel que seja tranquilo para salas de aulas, para escolas, para praças, ruas, um cordel mais universal possível” e essa tem sido a tônica dos Cordéis Joseenses nesses cinco anos de vida.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Recentemente você participou da Semana do Livro Nacional, né?
Paulo – Sim, Semana do Livro Nacional. Estivemos em São José dos Campos, onde a gente mora, então tivemos um sarau, tivemos uma mesa sobre poesia, sempre divulgando e tentando fazer esse cordel interagindo com o público, que é uma coisa que a gente gosta.

Over Shock (Ricardo  Biazotto)E o que você acha dessa ideia da Josy Stoque que movimentou o país inteiro, com vários escritores?
Paulo – Acho super importante e acho que esse tipo de iniciativa a gente quer que se multiplique mesmo, é algo que é muito simpático, é importante. Veja o meu caso: eu e a maioria dos escritores participantes somos escritores independentes, então a gente não tem um laço preso com uma editora, a gente não tem essa infraestrutura, toda essa dinâmica que já existe e ajuda, vamos dizer, os best-seller. A gente tá em outro campo, então a união faz a força. Pra gente, pra nós escritores, pessoal jovem, produzindo de forma independente. A união faz a força pra gente!

Over Shock (Ricardo  Biazotto)Para encerrar, comente um pouco sobre o que será a sua palestra hoje aqui na Semana Edgard Cavalheiro?
Paulo – A gente vai fazer um bate-papo informal, onde eu vou apresentar um pouco a história do cordel, antes até de chegar no Brasil, o cordel já existia na Europa. Aí falar um pouquinho do cordel no Brasil, de como a gente percebeu que o cordel foi ampliando leque de assuntos, ele trata de muita coisa, como o Brasil foi sendo escrito em cordel ao longo do tempo, aí vou exemplificar com alguns Cordéis Joseenses.

sábado, 21 de setembro de 2013

Educador Alexandre Camilo concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o educador Alexandre Camilo, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Over Shock (Ricardo Biazotto)Alexandre, gostaria que você comentasse um pouco da sua carreira como educador, palestrante, como ator.
Alexandre Camilo – O fato de eu ser um ator me ajudou muito nas minhas aulas, porque eu comecei, eu me formei como ator, depois eu fui lecionar, fui lecionar teatro, depois eu me especializei em teatro aplicado na educação, comecei os espetáculos e ia muito às escolas. E quando eu fui convidado a lecionar, eu vi nas escolas aquilo que eu não gostava: eu via tanta possibilidade e via a criança desmotivada. Então as minhas aulas, modéstia a parte, eram aulas muito divertidas e às vezes causava ciúmes em outros professores: “Ah, porque na minha aula ninguém para quieto”. Eu falei: “Não é, é porque a gente precisa saber dosar, colocar”. Isso foi uma coisa que foi me deixando inquieto e aí eu comecei a pesquisar isso: “Como seria a melhor forma da pessoa se comunicar? Do educador se comunicar?”.
Depois eu fui ao mundo corporativo, comecei a fazer isso dentro das empresas esse trabalho, porque dentro das empresas às vezes você tem vários líderes que tem muito conhecimento, mas que tem uma dificuldade enorme de se comunicar com a sua equipe. Então acontecia que você via líderes, que são pessoa que poderiam ser espelho para a equipe, desmotivando a sua equipe. Aí o meu trabalho foi focado nisso. Então eu tenho um trabalho de comunicação no mundo corporativo. Como a pessoa como líder pode estimular pessoas precisam obter resultados através de pessoas. Tem gente que precisa obter resultado através de pessoas: o bom professor, o bom vendedor, ele precisa se relacionar com pessoas. Algumas profissões estão ligadas a paixão pelo outro, a paixão pelo ser humano. Eu digo que quem não gosta de gente tem que trabalhar em TI e olhe lá, porque sempre uma pessoa. Tem gente que não devia trabalhar com Recursos Humanos, devia trabalhar com recursos bovinos. Eu brinco: “Nem bovinos, coitado do gado”. Eu acho que trabalhar com gente é algo muito apaixonante, e eu procuro mostrar isso nesse trabalho, então a minha carreira enveredou pra um tipo de atuação que ainda se dá nos palcos, mas em menor quantidade. Eu trabalho muito mais nesse mundo corporativo, nesse mundo com educadores, aonde a partir desse trabalho motivacional ou esse trabalho de comunicação eu procuro aprofundar mais esse autoconhecimento.

Over Shock (Ricardo Biazotto)O que é necessário, na sua visão, para os educadores e os profissionais de outras áreas mudarem de postura?
Alexandre – O essencial, eu acho que o primeiro passo, é a observação de si mesmo. O que eu percebo é que as pessoas elas são muito atentas aos outros, a observar o outro, dedicando pouco tempo para si próprio. Então quando a pessoa começa a perceber aquilo que eu digo que às vezes causa desconforto: o professor é exigente quando ele está na plateia, mas é pouco exigente quando consigo mesmo quando está no palco, porque isso leva a pessoa a prestar atenção na postura dela, na forma dela falar, na forma dela se comunicar, por isso que eu digo que o corpo fala; a comunicação não verbal. Eu chamo atenção a isso porque a pessoa começa a se autoconhecer e isso já é da Grécia, né? “Conhece-te a si mesmo”. Então você começa a prestar atenção na pessoa mais importante do seu mundo: é você, Ricardo, que vai fazer a diferença. É você motivado, atento com você, com as coisas, que vai poder fazer diferente. As coisas mudam a partir de você, quando você decide experimentar, quando você decide ousar, quando você acha que pode, você pode. Agora se você achar “não, isso não vai dar certo, eu não vou poder”, aí não adianta eu ficar te motivando, falando. Você é capaz de se abrir, mas se você se abre, nossa, você vai fazer coisas que você vai se surpreender. Então é este o meu convite: que a pessoa se surpreenda. Que pra isso ela mude a postura dela, mas é um exercício, e não é fácil.
Você veja a brincadeira que eu faço: “troquem de lugar”. Por que? Troca! É um exercício, mas é difícil. A pessoa não levanta, a outra fica meio... Então eu chamo atenção a esses detalhes, as coisas pequenas que valorizam as grandes coisas. As coisas se dão em detalhes.

Over Shock (Ricardo Biazotto)O que você espera que educadores que estiveram na palestra de hoje levem para suas casas, levem para suas vidas.
Alexandre – Espero que eles saiam daqui cheio de perguntas. A pergunta é mais importante do que a resposta, como estava até falando para o Eduardo. Que ele saiam pensando no papel de cada um deles, né? “Quem sou eu?” “Que mundo é esse?” “Qual o meu papel?”. Quem sou eu? Eu sou Alexandre Camilo Gonçalves, tenho 45 anos. Que mundo é esse? Eu estou em um mundo em que os pais matam os filhos, os filhos matam os pais. Qual o meu papel nesse mundo? Qual a minha missão?
Você, Ricardo; o Eduardo é jornalista; o professor Cláudio é professor. Qual é a sua função nesse mundo? Qual o seu papel nesse mundo? Você tem uma boa voz, isso te ajuda, mas é só isso? Não! O que você pode fazer com a tua profissão? O que você pode fazer pelo teu entorno. Um médico tem uma função muito importante. Um médico, quando ele pode errar, ele pode prejudicar uma pessoa. Um professor pode prejudicar trinta numa classe. Ele pode ser um serial killer naquela brincadeira que eu fiz, né? Ele pode matar a vontade de trinta alunos de se relacionar com livros, de descobrir esse universo, ou ele pode fazer exatamente o contrário, ser o agente de estímulo para que essas pessoas saiam daqui com vontade de ler, de fazer. O papel do professor ele é muito importante. Ele é muito importante hoje, como foi muito importante na Grécia Antiga. Esse papel nunca vai ser desvalorizado, o que talvez precise é que o professor se reinvente, que ele repense sua postura, a sua maneira de tratar o outro e a maneira como que ele está tratando a si próprio.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Como contador, o que você acha que é necessário que os professores façam em suas salas de aula para motivar os alunos a leitura, a conhecer outros tipos de artes, como o teatro, a música?
Alexandre – É fundamental que o professor tenha esse gosto. Aquilo que eu disse: ninguém pode dar aquilo que não tem. Se o professor tem amor pela palavra, pela arte, ele vai ser um agente motivador do seu aluno pra isso. Se ele gosta de algumas histórias, ele trabalha essas histórias... Teve uma professora que me contou uma coisa muito interessante: toda vez que chovia ela fazia contação de histórias na classe. Então ela montava o cenário, tinha pipoca, e se chovia a aula começava com contação de histórias. Aí ela fazia isso como um ritual. Se estava chovendo a aula começava com contação de histórias, e isso chamou a atenção da direção, uma vez que nos dias de chuva todas as classes tinham menos alunos, mas a dela não, nunca faltava, era o contrário. Então ela foi descobrir que as crianças faziam questão de vir embaixo de chuva e às vezes alegavam aos pais porque queriam vir, porque sabia que se tinha chuva, eu ter contação de histórias, ia ter pipoca, ia ter um outro universo.
Então o professor pode estimular a ida ao teatro, né? Aqui em Espírito Santo do Pinhal vocês têm um teatro maravilhoso, um teatro lindo que é um presente. Então trazer alunos para esse teatro é privilégio. Ter essa oportunidade, do professor apresentar diferentes ritmos, diferentes músicas, de ele ter a oportunidade de apresentar até diferentes tipos de filmes, né? Dependendo da idade e da classe, o professor pode ser esse agente pra ter um novo olhar. Só tem filme que passa com violência, só tem filme assim, ele pode estimular um cinema nacional de qualidade, pode estimular outro tipo de filme. E se ele souber canalizar isso e indicar isso pra classe, a classe não esquece.

Over Shock (Ricardo Biazotto)Para encerrar, gostaria de deixar o espaço aberto para você mandar uma mensagem para os ouvintes* (leitores).
Alexandre – Eu queria agradecer aos ouvintes. Dizer que eu sou um apaixonado por rádio, eu acho fantástico, porque o rádio tem muito a ver com o meu trabalho com contação de história, porque no rádio eu estou falando e talvez você não conheça o meu rosto, mas tá me imaginando, imaginando o que estou falando. Através da história é a mesma coisa: na história o recurso é a palavra. E o rádio tem esse poder, o rádio chega em todos os lugares, então eu sou um apaixonado por rádio, estou muito feliz de estar aqui em Espírito Santo do Pinhal, uma cidade que tem um teatro maravilhoso, pessoas muito acolhedoras, quero voltar pra esse teatro novamente, e se tiver a oportunidade de estar conversando novamente com os ouvintes, pra mim seria realmente um verdadeiro prazer. Ou um presente, como eu costumo dizer.

* Entrevista também realizada para o programa Patrícia Françoso com Você, da Rádio Interativa - FM 106,3

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Educadora Emília Cipriano concede entrevista ao blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com a educadora Emília Cipriano, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Ricardo Biazotto (Over Shock)Emília, em sua opinião, qual a importância da Educação participar de uma semana cultural como a Edgard Cavalheiro?
Emília Cipriano – Eu acho que primeiro é porque você abrir a possibilidade de os educadores estarem olhando a educação em sua perspectiva mais ampla, que é na relação com a cultura. Aí eu quis trazer a cultura infantil. A importância dessa cultura infantil, as representações que ela tem, as múltiplas formas de se organizar, o jeito como ela está, o sentido, e nessa perspectiva, eu acho que aqui aconteceu uma coisa muito bonita: que é quando você reúne a comunidade junto com os professores, com os grupos, para pensar em uma dimensão de construção coletiva.
Acho que esse é o grande desafio desse momento histórico nosso. Não são soluções individualizadas, mas situações muito mais no contexto que a gente está habitando, no caso na cidade que vocês vivem.

Ricardo Biazotto (Over Shock)A senhora acha que existe um vácuo cultural, dos alunos e dos professores, que impede essa aproximação com o teatro, com a literatura?
Emília – Não tenho dúvida que a gente utiliza muito pouco as múltiplas linguagens, em especial a arte cénica, a literatura, as relações com a música profundamente, e isso é uma pena, porque a medida que você não tem expressão, e a partir dessa expressão que as linguagem fluem, que elas constituem esse sentido, então é importante que a gente resgaste isso, que estratégias como ela possibilitam essa perspectiva.

Ricardo Biazotto (Over Shock)Durante a palestra foram citadas várias formas de acontecer o acolhimento dos alunos. Qual é a principal forma de reencantar o aluno, reencantar o professor, reecantar a sociedade?
Emília – Primeiro percebendo que cada um é único e que tem competências muito próprias, e não subestimar nenhum ser-humano, mas trazê-lo para poder partilhar com os outros suas competências. Segundo princípio: é perceber nas diferenças a riqueza desse trabalho, e que há uma multiplicidade de formas, de olhar, de percepção que precisa ser resgatados por nós.
Não se você estava desde o início, quando eu apresentei imagens de crianças. Você tem desde a criança, que é aquela que a mídia apresenta e tal, mas você tem a criança que está lá no nosso contexto que às vezes não tem nada a ver com aquele estereótipo que é colocado. É romper com isso. É trabalhar com seres concretos, experiências concretas, olhando e se desafiando para enfrentar os desafios desse contexto, que é extremamente, eu diria, desrespeitoso com alguns princípios, distante das necessidades infantis e das necessidades humanas, de percepção do outro.
Você vê que quando a gente é chamado pra tocar, pra perceber, a gente acolhe. Então é essa a provocação maior. É como eu me percebo, construindo uma relação diferente com o conjunto de crianças que atuo.

Ricardo Biazotto (Over Shock)O que a senhora mudaria, o que a senhora acha que seria necessário fazer para mudar a realidade da educação brasileira?
Emília – Primeiro eu mudaria a compreensão de currículo que nós temos. Um currículo muito engessado, disciplinas dissociadas uma das outras, eu trabalharia muito mais no foco da arte, acho que a arte é uma grande perspectiva, porque ela vai possibilitar linguagens diferentes e possibilidades de várias leituras de mundo, não uma única leitura, isso já amplia horizontes. Uma segunda coisa: a formação dos educadores. Precisa ser muito voltada para essa perspectiva, precisa-se retomar isso. A escola ainda é uma escola muito conteudista, muito preocupada com questões já de imediatismo e não de processo de reflexão, eu quero formar alguém mais reflexivo, mais crítico, mais analítico, mais participativo, mais ciente do espaço que ele ocupa. E uma terceira perspectiva seria políticas públicas que contemplasse de fato essa possibilidade de articular a cultura, educação, relações humanas, em um contexto muito mais amplo e não focados de uma forma tão fragmentada como vem sendo, como vem ocorrendo em nosso país.

Ricardo Biazotto (Over Shock)Para encerrar, gostaria que você falasse um pouco sobre sua carreira como palestrante e educadora.
Emília – Na verdade sou professora da PUC de São Paulo há 27 anos, trabalho como pesquisadora da infância, atualmente trabalhos em vários projetos no Brasil, e tenho trabalhado muito essa questão das múltiplas linguagens, da importância de trazer principalmente a arte para o trabalho com formação de educadores e para as escolas brasileiras. Hoje eu sinto que nós avançamos em algumas coisas, iniciativas como essa já são questões que vão sinalizando que é possível. A literatura é uma das áreas que mais vão trazer a gente para o mundo das metáforas, das relações, dos símbolos. Acho que é isso, outra lógica. Claro que na minha carreira, uma coisa eu sinto, formando formadores, porque eu formo professores, que serão formadores de crianças, mas eu sinto que o maior desafio que eu enfrento hoje é trazer as pessoas a se inspirarem mais naquilo que elas fazem, não fazerem disso apenas uma atividade sem afeto, sem envolvimento, sem compromisso ético, sem compromisso estético, sem compromisso político com a mudança dessa realidade.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Historiador Marco Antonio Villa concede entrevista o blog Over Shock

Confira abaixo a entrevista realizada pelo blog Over Shock, em parceria com o blog da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, com o historiador Marco Antonio Villa, durante a I Semana Edgard Cavalheiro:

Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock
Ricardo Biazotto (Over Shock)Marco, gostaria que você comentasse sobre em que ponto a história, a política e a literatura se unem.
Marco Antônio Villa – Eu acho que, no caso brasileiro, muitas questões sociais, primeiro as questões sociais importantes da história brasileira, né? Você vê que, no século XIX, muitos dos livros tratam da questão da escravidão, vamos lembrar o caso de O Cortiço, por exemplo. No século XX, nos anos 30 e 40, o romance regionalista, que tem sempre uma temática social. Então, em vários momentos da literatura brasileira, ela dialogou com as questões da sociedade brasileira, ou durante o império ou durante a república e tal. E muitas vezes vários escritores tiveram participação, ou como funcionários públicos, durante um período grande parte dos escritores eram funcionários públicos, ou escritores que também tiveram participação política. Você encontra isso no primeiro reinado, no segundo reinado ou na República Velha, ou nos anos trinta pra frente, teve uma participação ativa. Basta lembrar na constituição de 46, o Jorge Amado é constituinte, já era um escritor consagrado; Gilberto Freire, que era um sociólogo, teve participação ativa na constituinte, criando inclusive até a fundação Joaquim Nabuco, e assim por diante.
Mais recentemente, não sei, teríamos que estudar também quais são as razões, é que houve certo afastamento dessa relação mais próxima entre escritores, intelectuais e vida política. Pode ser também, eu não sei por que, a literatura brasileira foi perdendo grandes nomes, né? É difícil você encontrar grandes nomes da literatura brasileira, por exemplo, com menos de cinquenta anos. Você vai procurar, procurar, e vai ter alguma dificuldade.
Teve certos momentos, como por exemplo nos anos 30, você tinha vários escritores com menos de cinquenta anos que já eram consagrados. A Raquel de Queiroz era uma menina quando escreveu O Quinze; o Jorge Amado tinha menos de cinquenta anos nos anos 30; o José Lins do Rego, idem. Isso só pra citar alguns.
Então, essa situação aqui é diferente. Não sei, é alguma questão que nós temos no Brasil em que houve uma diminuição na importância da literatura. O que não é um fenômeno mundial, vale lembrar, isso não ocorre em vários países da América Latina, por exemplo, mas é uma questão que tá presente no Brasil. Pode ser, que o longo período do Regime Militar tenha criado dificuldades para o desenvolvimento da literatura brasileira, mas não acho também que essa seja a única explicação, porque outros países tiveram momentos até mais longos, e tiveram e tem grande escritores aí e tal. Eu não sei por que não temos escritores mais jovens e porque esse diálogo, que foi histórico nos séculos XIX e XX, não se mantém hoje no Brasil.

Ricardo Biazotto (Over Shock) – Seria possível alguma solução para que esses escritores voltem a ter uma participação política mais ativa?
Villa – Eu acho que pode ser que, as mudanças... Essa desilusão da política, essa coisa meio suja, a ideia de que a política é algo sujo, é uma coisa muito negativa para a democracia. Isso tem interferido um pouco, não sei, pode ser, na literatura brasileira.
Se nós olharmos os livros dos últimos dez anos, por exemplo, mais conhecidos, alguns ganharam prêmio, etc., você vai observar que essas questões clássicas que estavam na literatura, não só dos anos 30 e 40, porque você encontra isso no final do XIX, no Aluísio de Azevedo, por exemplo que eu citei O Cortiço, elas não estão mais presentes. São mais questões de ordem pessoal e individual.
Estou lembrando alguns agora: O Filho Eterno, do Cristovão Tezza, um escritor paranaense e tal, entre outros, alguns que têm um pouco essa temática clássica. Alguns no nordeste estão escrevendo hoje, mas parece que são mais questões individuais, nós perdemos um pouco o que está presente na literatura latino-americana, mas não ficou presente no Brasil. É difícil, é um tema que eu não teria respostas, mas acho que é coisa que mereceria uma reflexão.

Ricardo Biazotto (Over Shock) – Como escritor, como é o seu trabalho na pesquisa, elaboração de um livro, publicação, como se dá esse caminho?
Villa – O trabalho do historiador é um pouco diferente do que o trabalho do escritor romancista, por exemplo, porque ele trabalha com fontes primárias e secundárias. Portanto, todo o trabalho depende dessas fontes. É um trabalho tão solitário, como do escritor, porém ele parte de um objeto, ele passa seu estudo, levanta hipóteses sobre esse objeto, estuda, sempre de acordo com as fontes que ele tem acesso. É sempre um trabalho, na maior parte das vezes, um trabalho solitário, e não é um trabalho agradável.
Essa história que é bom uma pessoa um dia plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, as duas anteriores eu acho muito legal, mas escrever um livro normalmente é uma tarefa muito difícil, é uma agonia do autor com o texto, independente se é o primeiro livro, se é o quinto, o décimo, é sempre uma dificuldade dele com o texto, e da recepção do leitor em relação ao seu livro.
Ele nunca sabe qual vai ser a recepção. Pode ser positiva ou negativa, ele pode entender o livro de uma forma diferente do que você imaginou tal questão. Exemplo: o livro, quando você publica, deixa de ser seu e passa a ser de seus leitores. Mas é sempre uma tarefa individual muito difícil, não é fácil. É aquela ideia que você sempre acha que o último livro vai ser o último, você nunca mais vai escrever, mas quando aparece uma coisa interessante você acaba escrevendo. Essa questão, no caso do historiador, que é diferente, por exemplo, do sociólogo que pode trabalhar com uma equipe grande levantando dados, por exemplo, sobre um problema qualquer, independente da área de sociologia. O trabalho do historiador, muitas vezes é um trabalho quase tão solitário, creio, que o trabalho do escritor.

Villa e Valéria Torres (Foto: Ricardo Biazotto/Over Shock)
Ricardo Biazotto (Over Shock) – Mudando um pouco de assunto: recentemente houve as manifestações, que tomaram da mídia de um modo geral, então qual a opinião do senhor em relação aos manifestantes, em relação aos políticos e em relação as mudanças que essas manifestações causarão no Brasil.
Villa – É muito difícil a gente saber o que vai acontecer. Que o sinal foi dado, foi dado, se ele vai ser assimilado pela elite política é um ponto de interrogação. Acho que grande parte dela não está nem aí com o que aconteceu nas ruas, achou aquilo uma chatice, esperou a poeira abaixar e disse: “Vai continuar tudo na mesma”, a maioria pensa assim: que depois volta tudo ao normal. Normal é continuar tudo como estava antes de junho e tal. Pode ser até que isso ocorra. Como diz um amigo: “Pode ser ocorra tudo e pode ser que não ocorra nada”. A gente não sabe.
Agora, as manifestações apontaram as questões que são centrais, nós encontramos problemas incríveis. Houve uma ilusão na última década, especialmente, de que nós vivíamos em um país maravilhoso. Com o poder de comunicação do presidente era muito grande, até quando houve a recessão, como em 2009, que o Brasil cresceu negativamente, dava a impressão que o Brasil tinha tido um crescimento chinês e o Brasil regrediu, porque o poder de comunicação era muito grande. Por outro lado, há uma ausência sempre do contra discurso, que é a oposição. Qualquer país democrático tem governo e tem oposição. A oposição abdicou da proposta histórica de ser oposição.

Entrevista publicada em parceria com o blog Over Shock.

sábado, 7 de setembro de 2013

6º Clube do Livro "Edgard Cavalheiro" - Folclore: As Fantasias e Maravilhas da Literatura

Devido ao uso da imaginação e da exploração de elementos desvinculados do cotidiano humano, a literatura fantástica sempre teve um papel importante na formação de novos leitores.
 
Nos dias atuais, grande parte dos aficionados pela literatura diz ter iniciado essa paixão com a leitura de sucessos editoriais recentes, como as sagas Harry Potter e Crepúsculo, e também os já considerados clássicos, como As Crônicas de Nárnia e O Senhor dos Anéis. Devido a essa importância, o Clube do Livro "Edgard Cavalheiro" aproveitou o mês do folclore e realizou o seu sexto encontro, no último dia 23 de agosto, com o tema "Folclore: As Fantasias e Maravilhas da Literatura".

Ainda no início do encontro, foi apresentado um pequeno resumo sobre a literatura fantástica e maravilhosa, antes de uma discussão sobre a importância das fantasias e maravilhas na literatura. Segundo o escritor e professor Paulo Romão, "a literatura fantástica joga com a dúvida, enquanto a maravilhosa brinca com a certeza". Durante a discussão foi comentado ainda que esse estilo literário é importante "porque é o que as pessoas buscam ou querem viver".

Ao longo dos anos, a abrangência da literatura fantástica resultou na criação de inúmeros subgêneros, que também foram apresentados no início do encontro. Entre os subgêneros citados estão a High Fantasy (As Crônicas de Gelo e Fogo), Low Fantasy (Harry Potter), Mythical Fiction (Percy Jackson), Urban Fantasy (Os Instrumentos Mortais) e Medieval Fantasy (A Crônica do Matador do Rei).

Foto: Reprodução/Amazon
Após a apresentação dos subgêneros da fantasia, os participantes comentaram sobre os livros lidos especialmente para o encontro. Os já citados Harry Potter e As Crônicas de Nárnia foram lembrados, além de O Guia do Mochileiro da Galáxia, escrito por Douglas Adams, e A Menina que Semeava, de Lou Aronica. Entre os destaque é possível citar ainda a trilogia nacional Dragões de Éter, do escritor best-seller Raphael Draccon, e Baudolino, do italiano Umberto Eco.

Já no final os participantes entregaram seus trabalhos sobre o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas. Os desenhos participantes do concurso foram avaliados por todos os membros presentes na reunião do dia 28 da Casa do Escritor Pinhalense "Edgard Cavalheiro" e o criador do desenho escolhido ganhou um exemplar do livro Paperboy, de Pete Dexter.

Por fim, ficou decidido que o sétimo encontro será realizado no próximo dia 28 e o tema será o livro Memórias de um Sargento de Milícias, publicado por Manuel Antônio de Almeida entre 1852 e 1853, aproveitando o mês da Independência do Brasil.

Confirme presença no evento clicando aqui.